I.
Da
Ciência Política e seu objecto
1.1.Definição
da Ciência Política
Desde
a antiguidade clássica os homens preocupam-se com os fenómenos políticos. Tendo
já nesta altura o Aristóteles afirmado que o homem era por excelência um
“animal político”.
A
política nos dias de hoje está associada ao poder, ao poder político, à
autoridade e a distribuição de valores.
Segundo
Diogo Freitas do Amaral, a política é uma luta destinada a fazer triunfar ou
fracassar determinadas ideias ou projectos, e prossegue o mesmo autor que na
maior parte das vezes, a política actualmente com base em ideologias, mas nem
sempre foi assim, e não tem necessariamente de ser assim. A política é uma
competição entre homens ou grupos sociais e tem por objectivo o governo dos
povos.[1]
Segundo
o Prof. António de Oliveira Salazar, a política é a arte do possível, enquanto
para Braga da Cruz é a arte de tornar possível o que é necessário.
Freitas
do Amaral conclui que o estudo da política é uma ciência, mas a política em si
mesmo não o é. Esta percepção leva-o a definir a política como uma actividade
humana, de tipo competitivo, que tem por objecto a conquista e o exercício do poder.
Tal
como na Grécia Antiga, preocupavam-se com os fenómenos políticos, actualmente,
cada vez mais estudiosos procuram observar, comparar e interpretar os factos
políticos recorrendo à vários métodos e técnicas de investigação e análise.
Esses
estudiosos, designam-se por “politólogos,
e contribuem significativamente para delimitar o âmbito da ciência política e
ajudar a compreender o significado deste conceito.
Conceito
este que pode ser entendido por:
“observação, análise, comparação,
sistematização e explicação dos factos e dos acontecimentos políticos”
1.2.Delimitação
do Objecto da Ciência Política
a) Ciência
política como ciência do Estado
Para
Marcel Prélot e para Marcelo Caetano “ não há que ter dúvidas: a ciencia
política é, e não pode deixar de ser a ciência do Estado. Tal era o objecto da
política na Antiguidade…não há razão para que desde Platão, Aristoteles e
Cicero, o objecto desta ciência tenha desaparecido”.
Portanto,
para Marcel Prélot a ciência política é o conhecimento descritivo, explicativo
e prospectivo do Estado e dos fenómenos que com ele se relacionem, quer por
anterioridade, quer por simultaneidade, quer ainda por sobreposição”.[2]
b) Ciência
política como ciência do poder
Para
os defensores desta tese o objecto da ciência política não se confina ao
Estado, ; a ciência política é a ciência do poder. Esta teoria foi defendida
por: Burdeau, Duverger, Dahl, Weber e
Moreira. Por exemplo,
Ø Max
Weber - defendia que a política
significava a luta para participar no poder ou influenciar a distribuição do
poder , quer entre os Estados, quer no interior de um Estado, quer entre os
grupos humanos que nele existem”.
Ø Maurice
Duverger – para este, o objecto da ciência política não suscita grandes
dificuldades; é a ciência da autoridade, dos governantes, do poder.
Ø Adriano
Moreira – este autor afirma que “parece
certo que o poder é o objecto central da ciência política, e que deve ser
examinado com o critério tridimensional: a sede do poder, a forma ou a imagem e
a ideologia.
c) Uma
posição intermédia
Esta
defendera a ciência política não como a ciência do Estado, e não apenas a
ciência do poder, mas a ciência política entendida como a ciência da
observação, análise e explicações dos fenómenos políticos; estudando não apenas
o Estado ou o Poder, mas todas as forças internas que lutam pela aquisição e
exercício do poder ou que procuram influencia-lo para a satisfação dos seus
interesses, e as forças internacionais que influenciam ou tentam influenciar o
comportamento do conjunto dos órgãos que numa sociedade tem capacidade para
obrigar os outros a adoptar certo comportamento.[3]
Ciência
política debruça-se sobre o estudo do poder. Como se adquire e utiliza o poder.
No que concerne a sua aquisição, exercício, concentração, distribuição e
legitimidade.
d) Porque
existe a ciência política? Qual a sua razão de ser?
O
homem tem interesses ou necessidades e com a insuficiência de bens gera
conflitos; os conflitos podem ser latentes, potenciais ou reais.
II.
Do
Poder Político
2.1.
Conceito de poder
O
conceito de poder (do latim potere) é
literalmente a capacidade de deliberar, agir e mandar.
Na
Ciência Política o poder é definido como a capacidade que alguém tem de impor
algo sem alternativa para a desobediência.[4]
Segundo
a clássica definição de Weber e Dahl o poder é é uma relação entre um qualquer
A e um qualquer B, na qual A induz B a agir de um modo que B não faria se não
fosse por acção de A. Diz-se então que A dispõe ou exerce algum poder sobre B.[5]
O
poder é uma relação entre actores. Desta forma, o poder que o actor A possui
sobre o actor B depende, sobretudo, da relação entre estes dois actores.
O
poder pode definir-se, então como uma relação desigual, que permite a um actor
obrigar outro a praticar uma acção que este não realizaria. Esta relação
assimétrica entre dois ou mais actores existe entre todos os grupos sociais,
desde os mais básicos até aos mais complexos, desde a família, a escola, a
empresa, os Estados e a sociedades internacional.
O
poder pode ser visto através da força, da persuasão, da autoridade, da coação e
da manipulação desempenha um papel fundamental no sistema internacional,
assumindo muitas formas, desde a guerra até à pressão económica e a influência
cultural e ideológica.
Um
poder é tanto mais forte, quanto menos tem de usar a força. Visa o consenso dos
cidadãos.[6]
2.2.O
Poder Político
Segundo
o professor Marcelo Rebelo de sousa Poder político é um poder de injunção,
dotado de coercibilidade material.
Poder
– qualidade de impor eficazmente a conduta alheia.
Injunção
– poder vinculativo (de natureza), coercibilidade material – utilização da
força (possivelmente poderá utilizar a força).
Coação
– é a força que é utilizada.
O
que é normal no poder político é a obediência pelo consentimento; a autoridade
de quem governa baseia-se no consentimento dos governados, na persuasão e na
harmonia dos contrários, sem reclamar o recurso a violência e a coação.[7]
2.3.Os
Problemas de Legitimidade do Poder
A
legitimidade pode ser:
a) Legitimidade
de título – forma de designação dos titulares no cargo ao poder;
b) Legitimidade
de exercício – forma de desempenho dos titulares dos cargos.
O
poder requer luta e manutenção, ou seja, exercício do mesmo, utilizado para
governar. O poder pode-se conquistar de forma pacífica (eleições) ou violenta
(golpe de estado), fazendo-se depois uso dele para governar, executando medidas
em função de determinadas ideias e em defesa de determinados interesses.
Um
poder que se adquire por meio de eleições será um poder legitimo, gozará de
legitimidade de titulo, e consequentemente de exercício.
E
um poder que se adquire por golpe de estado será um poder ilegítimo, porque se
adquiriu de forma ilegal.
Mas
um poder que se conquista de forma legitima, poder-se-á tornar legitimo quando
adquire concesso. Portanto, como afirma o Professor Marcelo Rebelo de Sousa, Um
poder é legítimo quando é consensual.
2.4.O
poder político pode ser
a) Poder
Político Supra – Estadual (v.g. Assembleia
das NU)
b) Poder
Político Estadual;
c) Poder
Político Infra-estadual (v.g.Conselho
Municipal) .
[1] Paulino
Lukamba e Carlos Barracho, História das Ideias Políticas, Escolar Editora,
Angola, 2012, pp 19.
[2] Marcel
Prélot, A Ciência Política Actual, Livraria Bertrand, Lisboa, 1974.
[3] Idem.
[4] Paulino
Lukamba e Carlos Barracho, História das Ideias Políticas, Escolar Editora,
Angola, 2012, pp 20.
[5] Weber e Dahl opud op. cit., pp 20.
[6] Op.cit. pp 21.
[7] Lukamba
e Barracho, op. Cit., pp 22.
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